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Estudos com o plantio e manejo de Jagubes e Rainhas (foto) ocorrem quinzenalmente na Igreja Mestre Irineu, no período matutino e conta com café-da-manhã e almoço vegetariano
“Minha mãe minha rainha / Foi ela que me entregou / Para mim ser jardineiro / No jardim de belas flores. / No jardim de belas flores / Tem tudo que procurar / Tem primor e tem beleza / Tem tudo que Deus me dá”. O criador do Daime, Raimundo Irineu Serra, o Mestre Irineu, explicitou a importância da natureza para a concepção espiritual da doutrina Daimista em vários hinos do hinário “O Cruzeiro”. A sacralidade dos elementos ambientais aparece, por exemplo, na primeira estrofe do Hino 79 – Jardineiro, com que inicio o texto.
A referência espiritual aos elementos ambientais, passa especialmente pelo reconhecimento da sacralidade do Jagube e da Rainha, as duas plantas sagradas, que unidas em decocção geram o chá do Daime. Na sexta estrofe do Hino 46 “Eu Balanço”, Mestre Irineu ensina essa importância: “Chamo o cipó / Chamo a folha / E chamo a água / Para unir e vir me amostrar”. Além disso, o mar, o vento, a própria terra, o céu, o sol, a lua e as estrelas são todos elementos com destaque nos Hinos do “O Cruzeiro”.
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Neste cenário de ligação máxima entre o Daime e os elementos sagrados da natureza, desde a inauguração de sua sede própria, que ocorreu em 2006, a direção da Igreja Mestre Irineu (IMI) mantém um “Reinado de Rainhas e Jagubes”. Iniciado pelos estudos desenvolvidos pelo Padrinho Sérgio Nord, o Jardim de “Plantas Professoras” da IMI, desde março de 2020, está sob os cuidados da Comissão do Reinado, criada tanto para conservar o espaço, quanto para ampliá-lo, melhorando aspectos do plantio e do manejo.
Atualmente, a Comissão é coordenada pela Fardada, bióloga e doutoranda em Educação Ambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Déborah Moreira. Como são espécies nativas, além cultivar para o próprio consumo, o plantio próprio garante a preservação natural das espécies.
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Déborah coordena a Comissão do Reinado e informa que há o plantio de ao menos três espécies de Jagube: Dourado, Caabi e Tucunacá
“As plantas usadas para a produção do Daime são nativas da floresta Amazônica. Assim, por questões de cuidado com a Floresta, que tem sofrido com os desmatamentos e com diversas pressões antrópicas, muitas igrejas têm organizado espaços que são destinados ao cultivo das plantas professoras”, explica Déborah.
Segundo a Coordenadora da Comissão do Reinado, o trabalho possui pelo menos duas dimensões inseparáveis: “a material que consiste nos cuidados de manejo necessários ao desenvolvimento das plantas (podas, adubação, capina), e a dimensão espiritual ligada ao mundo do pensamento, sentimento, ao cultivo do amor, da harmonia”.
Na opinião, de Déborah, “O cuidado com o Reinado é um trabalho de amor, devoção e doação que requer disciplina. Sem ela não é possível produzirmos o nosso sacramento tão necessário para evolução. Nesse sentido, é importante que cada Fardado desperte para importância deste trabalho que é puro amor em ação. Podemos entender que o feitio acontece o ano inteiro, por meio do cuidado e cultivo de nossas plantas sagradas,” enfatiza.
“Jardineiros e Campineiros”
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Pensando na mesma ótica, o Fardado da IMI, Nelson Alexandre da Silveira (foto segurando o machado), que sempre está presente nos cuidados com o Reinado, entende que o trabalho no Reinado, é totalmente complementar, tanto pela forma com que a gente se coloca em devoção, quanto zelar pelas plantas, para produzir o Daime”. Em seu argumento, o Reinado configura-se como “um trabalho de devoção à Casa, à Doutrina, ao Daime, à espiritualidade presente e a todos os irmãos que chegam para consagrar essa santa bebida”.
“Trabalhar no Reinado, é um trabalho de devoção, com a Igreja e com o servir. Decidir fazer parte e colaborar como Fardado, é um trabalho de devoção à Doutrina e à espiritualidade sempre presente que nos acolhe e que forma a egrégora da nossa Igreja. Consequentemente, acaba sendo um trabalho de devoção a todos os irmãos que chegam e participam na Sessão. Vai culminar justamente no Daime que a gente consagra nos trabalhos”, observa Nelson.
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Já a Fardada da IMI, Sebastiana Mandu (na foto acima recebendo a Estrela de Salomão no dia de seu fardamento pelas mãos da Madrinha Silvia Nord), participante ativa nos mutirões, considera que o trabalho no Reinado “é um assunto extremamente sagrado”, pois sente “uma grande alegria em poder servir através do mutirão”.
“Sinto que estou dando continuidade à prática que já realizo há algum tempo na minha caminhada espiritual. No momento dessa entrega e sintonia com as plantas medicinais, sinto prazer em conectar com esta luz divinamente presente na Rainha. É necessário o devido respeito, pois ela é a luz que nos clareia, em união com o Jagube, que é a força do Rei, a água e o fogo, nós temos, então, aí o resultado do Daime, desta bebida sagrada, que nós consagramos na nossa ritualística”, frisa.
Sebastiana comenta que o que mais gosta no mutirão, “é trabalhar com a Rainha e ver e sentir esse movimento da irmandade com alegria, consciência e dedicação”. “A Rainha me orienta, me desperta, me dá oportunidade para trabalhar a vida espiritual. O resultado deste cuidado, podemos perceber que nos traz grandes benefícios. A gente pode ver e sentir isso em cada um de nós, que é uma grande consciência, quando as pessoas se despertam para esse olhar, esse sentimento de zelo e de cuidado”, emociona-se.
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Capina das áreas para retirada de plantas competidoras
“Silencioso / Eu Chego no Jardim”
Com formação em biologia e cursos em agroecologia, Déborah destaca que o cultivo tem sido realizado de três modos distintos no Reinado da IMI: Reinado com Rainha e Jagube; Reinado só de Jagube; e uma área experimental, onde estão consorciadas com outras espécies comestíveis (agrofloresta). Além disso, atualmente temos plantado três variedades de Jagube: o Dourado, o Caabi, e o Tucunacá.
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Os Fardadss da IMI, juliany Ferreira e Élvio dos Anjos, na colheita das sementes de Rainha
Os estudos para manutenção do Reinado ocorrem quase sempre quinzenalmente, aos sábados, nos intervalos dos finais de semana que ocorrem Sessões. A atividade é aberta para frequentadores e visitantes. Em fevereiro, excepcionalmente, os mutirões no Reinado estão previstos para ocorrer em dois sábados sequenciais, nos dias 18 e 25.
O trabalho começa às 08h com um delicioso café-da-manhã coletivo. Na sequência, às 8h30 é feita uma oração de abertura, com a consagração do Daime e a intenção de harmonizar, para iniciar os trabalhos no Reinado. De acordo com Déborah, uma das principais instruções nos cuidados com o Reinado é a dimensão do respeito pelas plantas sagradas, expressadas, sobretudo, pelo silêncio.
“É muito importante a intencionalidade que colocamos durante o trabalho em que estamos manejando nossas plantas professoras que são plantas conscientes e que quando se juntam com a água, no fogo, produz o sacramento que nos levará a ver primores e a corrigir nossos defeitos, como bem nos ensina o nosso Mestre no Decreto. O silêncio é uma dimensão fundamental durante o trabalho no Reinado e é preciso cuidar com o que se pensa e o que se fala neste espaço. É também uma questão de respeito aos seres que o habitam”, comenta.
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Os estudos iniciam com café da manhã às 08h e finalizam com almoço vegetariano às 12h30
Outro aspecto importante a ser ressaltado é a estruturação da Comissão, que passa pela compra e manutenção de ferramentas, a compra de adubo orgânico, mão-de-obra especializada, água e energia para irrigação, a alimentação nos mutirões, o que somando, somente em 2022, ultrapassou os R$ 30 mil reais investidos. “Esta informação dá a dimensão da importância dos investimentos para que tenhamos um jardim bonito e saudável, oferecendo o zelo e o carinho que nossas plantas merecem. Para que todas essas atividades ocorram é fundamental o investimento financeiro”, conclui Déborah.
Manejo
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O trabalho de manejo no Reinado envolve atividades como:
- Podas de Rainha e Jagube para contribuir para melhor desenvolvimento das plantas;
- Retiradas de sementes das Rainhas para diminuir o gasto energético que é necessário para produção de frutos, o que leva ao aumento de suas folhas utilizadas na preparação do Daime;
- Capina das áreas para retirada de plantas competidoras;
- Manejo de cupins e formigas;
- Adubação realizada em cada estação com adubo orgânico (em cada adubação usamos aproximadamente 1 tonelada de adubo);
- Manejo de árvores e podas;
- Produção de mudas de Jagubes e rainhas e plantio;
- Condução das linhas para os Jagubes subirem na estrutura aérea ou árvores.
Texto: Aluízio de Azevedo
Fotos: Luiz Pita
Comissão de Comunicação, Arte & Cultura da IMI
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