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Meu primeiro Feitio

Foto do escritor: Igreja Mestre IrineuIgreja Mestre Irineu

Atualizado: 26 de jun. de 2023


Martha Baptista


CRÔNICAS DAIMISTAS I


A Comissão de Comunicação, Cultura & Arte da IMI convidou-me a escrever um texto sobre o meu primeiro Feitio do Daime. Fiquei na dúvida se seria melhor escrever ainda sob os efeitos da experiência ou se deveria aguardar um pouco para assimilar melhor os acontecimentos dos últimos dias, mas resolvi colocar na tela do computador minhas primeiras impressões tentando não levar em conta o meu lado de jornalista.


Fui participar do Feitio com grandes expectativas, porém, infelizmente, a data acabou coincidindo com a de uma apresentação muito importante do Coro Experimental MT, do qual faço parte desde 2017. Por isso, tive que conciliar as duas atividades. Acredito que não ter participado da sessão de encerramento no sábado à noite foi uma pena porque seria uma espécie de fechamento para tudo que foi vivenciado durante o Feitio.


A quarta-feira foi talvez o dia mais intenso de trabalho porque éramos ainda poucas mulheres nos dedicando à colheita das folhas da Rainha, uma tarefa absolutamente nova para mim. Por sorte, contei com professoras generosas – Mari, Sirlei, Alice, Daiane, Débora e Edinalva (desculpe, se esqueci alguém) – que me ensinaram o beabá da colheita. Pequenos incidentes com insetos que naturalmente vivem no Reinado fizeram parte da rotina de trabalho, que se encerrou no final do dia em grande harmonia. Como eu me preparei para dormir no salão da Igreja, pude participar também de outra etapa do trabalho, que foi a limpeza das folhas. Foi bem cansativo: minhas pernas e costas doíam, e eu não encontrava mais posição. Edinalva me dispensou, mas eu queria ficar mais um pouco e estendi o máximo que consegui.


Colhendo rainhas no Reinado


Custei um pouco para adormecer atormentada por algumas visões e achei que não conseguiria dormir direito (tenho um pouco de medo de deitar no chão por causa da possibilidade de insetos, principalmente baratas, que são meu pavor), mas para minha surpresa (e vergonha) fui a última acordar. O sono foi pesado e reparador.


Após o café da manhã – aliás, que comidas deliciosas foram preparadas por Nete e a Madrinha Sílvia nesses primeiros dias!-, eu me juntei à turma que já estava colhendo (salvo engano, Mari, Adriana e Andreia). Como tomei o Daime (era para ser bem pouquinho), entrei na força e a qual estava bem forte. Tive que me afastar um pouco da colheita, mas logo retornei e fiquei trabalhando sozinha por sugestão das meninas. Foi gostoso, mas, ao mesmo tempo, isso corroborou a minha tendência a trabalhar sozinha e sei que preciso aprender a trabalhar em equipe.


Fiz o máximo que pude – já estava conseguindo colher de uma forma mais eficiente – e, por volta de 15h voltei para minha casa de modo a atender às atividades do Coro. Na sexta-feira, retornei à IMI. O movimento era bem mais intenso, com grande presença de frequentadores e fardados. Comecei a trabalhar na colheita e, para minha surpresa, antes do almoço já tinha sido atingida a meta do batalhão feminino. Logo após almoçar tive uma conversa muito rica e instrutiva com a Madrinha Sebastiana e Silvana, e acabei me deitando um pouco para descansar. A chuva, a calma do lugar, tudo me conduziu ao sono. Mais tarde, participei de uma breve colheita para atender a uma demanda que surgiu e me juntei àqueles que estavam cantando hinários perto dos homens que trabalhavam na bateção e cuidavam das panelas fumegantes onde o Daime estava sendo preparado.


Confraternizando com a irmandade em um dos vários momentos de descanso e refeições


Eu me arrependo de não ter me aproximado da Casa das Folhas para saber se poderia ser útil. Por ser frequentadora e não ter experiência alguma de Feitio, às vezes me sentia um pouco perdida.


Durante essa noite, a força – que já tinha se manifestado durante o dia – veio novamente. Houve um momento em que chorei bastante pensando no meu pai, que faleceu aos 67 anos (de coração), quando eu tinha cinco anos. Como estou perto de completar 67 anos, me bateu um medo e uma tristeza muito grande ao pensar que poderia estar perto de fazer a passagem também. É um pensamento meio sem sentido já que estou bem, saudável e vivemos outros tempos. Esses pensamentos vêm acompanhados de uma sensação de “vazio”, como se eu não fosse mais tão necessária neste mundo. Pensei na minha trajetória de vida, em que várias pessoas importantes foram ficando para trás e aí me veio um pensamento muito bonito: pensei em minhas duas filhas – que hoje estão independentes e fisicamente longe de mim – como duas folhinhas da Rainha, que precisaram dos meus cuidados e agora já estão suficientemente fortes para seguir sozinhas. Fiz essa analogia por conta da orientação que recebi das irmãs mais experientes no sentido de sempre deixar duas folhas maiores quando as folhinhas da ponta estivessem muito pequenas e frágeis (bebezinhas como explicou Daiane). No meu caso e das minhas filhas, por muito tempo ficou somente uma folha grande, mas havia uma família dando suporte.


Dormi no salão e acordei no sábado com a ilusão de que não haveria trabalho a fazer, porém para minha surpresa – e alívio – havia muito a fazer e, por uns instantes, entendi que caberia a nós mulheres lavarmos os panelões do feitio, tarefa reservada, preferencialmente, aos homens. Ufa! Tentei ajudar onde pude, embora às vezes me sentisse como uma barata tonta. Mas foi gostoso passar a manhã na Igreja, contribuir para o almoço (delicioso) na preparação dos sucos e sair depois. Fiquei feliz porque muitos me questionaram por que não iria ficar para a sessão de encerramento e me senti querida naquele momento. A apresentação do Coro Experimental no Parque das Águas foi maravilhosa e me senti muito privilegiada de fazer parte desse grupo tão especial há seis anos.



Martha atuando como coralista no musical "O Poder da Floresta"


E quanto ao Feitio, não vejo a hora de participar de uma nova sessão para processar melhor tudo que vivi na Igreja nesses dias. Também não vejo a hora de participar de um segundo Feitio e talvez num próximo possa contribuir mais. No momento, a sensação maior que estou não é de firmeza ou fortaleza. Estou me sentido frágil, mas quero acreditar que ainda vou encontrar respostas para minhas incertezas. Quem me conhece um pouco melhor, sabe o quanto resisto a ter fé. Costumo dizer que o Daime me ajudou a olhar para a metade cheia do copo, mudando um pouco a minha tendência de olhar para metade vazia. Sinto que preciso aprofundar meus estudos e, por enquanto, pretendo continuar trilhando essa estrada com vocês, amigos queridos que conheci na Igreja Mestre Irineu. Agradeço a todos pelos cuidados e ensinamentos.


“Viva o Daime!

Viva o Daime aonde está

É o poder da floresta

Que está no mundo

A me ensinar”.

(Trecho do hino “É o Daime”, que faz parte do hinário “Mensageiro das Estrelas” do Padrinho Egon Nord, que me apresentou à doutrina, graças à minha participação no musical “O poder da floresta”)


Martha nasceu em Corumbá – MS e morou muitos anos no Rio de Janeiro onde se formou em Comunicação/Jornalismo na UFRJ. No final dos anos 80 veio para Mato Grosso residindo em Cáceres e Cuiabá onde trabalhou como jornalista e professora. Mãe de duas filhas, atualmente é escritora e cantora. Ela conheceu o Daime em 2021 por causa do musical "O Poder da Floresta", musical-documentário que retrata artisticamente o Daime, do qual participou como integrante do Coro Experimental MT. Ao se apaixonar pela Igreja e pelas pessoas que nela estão, decidiu participar de sua primeira sessão na Igreja em fevereiro de 2022. Desde então tem frequentado a IMI, onde se sente muito acolhida.

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1 Comment


Excelente relato.

Parabéns pela experiência.

Feliz por Você.

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